quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Sentar-se à janela do Avião


Era criança quando, pela primeira vez, entrei em um avião.
A ansiedade de voar era enorme.
Eu queria me sentar ao lado da janela de qualquer jeito, 
acompanhar o vôo desde o primeiro momento 
e sentir o avião correndo na pista cada vez mais rápido 
até a decolagem.
Ao olhar pela janela via, sem palavras, o avião rompendo as nuvens,

chegando ao céu azul.
Tudo era novidade e fantasia..
Cresci, me formei, e comecei a trabalhar.
No meu trabalho, desde o início, voar era uma necessidade constante.
As reuniões em outras cidades e a correria me obrigavam, às vezes,
a estar em dois lugares num mesmo dia.
No início pedia sempre poltronas ao lado da janela, 

e, ainda com olhos de menino, 
fitava as nuvens, curtia a viagem, e nem me incomodava de esperar 
um pouco mais para sair do avião, pegar a bagagem, coisa etal.
O tempo foi passando, a correria aumentando, 

e já não fazia questão de me sentar à janela, 
nem mesmo de ver as nuvens, o sol, as cidades abaixo, 
o mar ou qualquer paisagem que fosse. Perdi o encanto. 
Pensava somente em chegar e sair, 
me acomodar rápido e sair rápido.
As poltronas do corredor agora eram exigência. 

Mais fáceis para sair sem ter que esperar ninguém, 
sempre e sempre preocupado com a hora, com o compromisso, 
com tudo, menos com a viagem, com a paisagem,comigo mesmo.
Por um desses maravilhosos 'acasos' do destino, 

estava eu louco para voltar de São Paulo numa tarde chuvosa, 
precisando chegar em Curitiba o mais rápido possível.
O vôo estava lotado e o único lugar disponível 
era uma janela, na última poltrona.
Sem pensar concordei de imediato, peguei meu bilhete e fui para o embarque.
Embarquei no avião, me acomodei na poltrona indicada: a janela.
Janela que há muito eu não via, ou melhor, pela qual já não me preocupava em olhar.
E, num rompante, assim que o avião decolou, lembrei-me da primeira vez que voara.
Senti novamente e estranhamente aquela ansiedade, aquele frio na barriga.
Olhava o avião rompendo as nuvens escuras até que, 
tendo passado pela chuva, apareceu o céu.
Era de um azul tão lindo como jamais tinha visto.
E também o sol, que brilhava como se tivesse acabado de nascer.
Naquele instante, em que voltei a ser criança, 
percebi que estava deixando de viver um pouco a cada viagem 
em que desprezava aquela vista.
Pensei comigo mesmo: será que em relação às outras coisas da minha vida 
eu também não havia deixado de me sentar à janela, 
como, por exemplo, olhar pela janela das minhas amizades, 
do meu casamento, do meu trabalho e convívio pessoal?
Creio que aos poucos, e mesmo sem perceber, 
deixamos de olhar pela janela da nossa vida.
A vida também é uma viagem e se não nos sentarmos à janela, 
perdemos o que há de melhor:
as paisagens, que são nossos amores, alegrias, tristezas, 
enfim, tudo o que nos mantém vivos.
Se viajarmos somente na poltrona do corredor, 

com pressa de chegar, sabe-se lá aonde,
 perderemos a oportunidade de apreciar as belezas 
que a viagem nos oferece.
Se você também está num ritmo acelerado, 

pedindo sempre poltronas do corredor,
para embarcar e desembarcar rápido e 'ganhar tempo',
pare um pouco e reflita sobre aonde você quer chegar.
A aeronave da nossa existência voa célere
e a duração da viagem não é anunciada pelo comandante.
Não sabemos quanto tempo ainda nos resta.
Por essa razão, vale a pena sentar próximo da janela 
para não perder nenhum detalhe.
Afinal, 'a vida, a felicidade e a paz são caminhos e não destinos'.
(Alexandre Garcia)

Amei este texto. Eu amo sentar-me ao lado da janela...
Uma boa reflexão

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